quinta-feira, 19 de maio de 2016

Virgem Prudentíssima

Virgo prudentissima, ora pro nobis.



...era sensata e muito bonita (1 Samuel 25) (1)





Escreve o Padre Paschoal Rangel:

A prudência é uma virtude capital. São Bernardo dizia que "ela tem as rédeas da afetividade e a direção dos costumes; afastai-a e a virtude se torna um vício". (Sermão 40 in Cant.).São Tomás de Aquino coloca seu estudo, na Suma Teológica, logo após o estudo das virtudes teologais (fé, esperança e caridade), porque a prudência, diz o sábio e santo Doutor, "se mistura com os atos de todas as outras virtudes", pois é ela que nos diz, nos casos concretos, o que está de acordo com os princípios da moral. E ele cita Santo Agostinho: "A prudência é o conhecimento do que se deve desejar ou evitar".Ela é uma virtude moral e intelectual profundamente humana. Mas, quando recebemos a graça de Deus, é iluminada e fortificada por Deus, e pode ainda ser suplementada pelo dom do conselho, um dos dons do Espírito Santo. Em Maria, "cheia de graça", ela existia e se exercitava em grau altíssimo. Comunicava à Virgem um divino discernimento do bem e do mal, do justo e do injusto, do conveniente e do inconveniente, do mais importante e do menos importante, o que a ajudava a escolher o melhor. Isto - é verdade - não impedia que, eventualmente, a própria Mãe de Jesus não acertasse plenamente da primeira vez, como o Evangelho o mostra em alguns casos: por ex., quando se inquietou angustiadamente pela perda de Jesus, que ficara no Templo, enquanto ela e São José voltavam para casa. Jesus lhe disse: "Mas por que vos inquietais? Não sabíeis que devo me ocupar das coisas de meu Pai?" (Lc 2,49). Ou quando, seguindo a idéia de seus parentes, foi tentar persuadir a Jesus que pregava às multidões, que interrompesse o ministério, e o Filho divino respondeu: "Quem é minha mãe, quem são meus irmãos?" etc (Mt 12,46-50).Sua prudência, entretanto, a levava imediatamente a reconhecer a vontade de Deus e a colocar-se a serviço dessa vontade, sem nunca reclamar nada. Santo Agostinho disse, certa vez, que "a prudência é um sentimento d'alma ou um movimento interior, pelo qual uma pessoa entende que as coisas eternas são mais importantes, as temporais são inferiores" e, por isso, devem ficar em segundo lugar.O prudente não se precipita, não se deixa levar pelo instinto, pelo primeiro impulso. O prudente reflete, medita, procura ouvir o Senhor que fala ao coração. Dá tempo às palavras e às coisas para que possam se abrir e brotar dentro dele. São Lucas afirma duas vezes que Maria "guardava todas essas coisas, repassando-as no coração" (Lc 2, 19 e 51). As coisas aconteciam e passavam para as outras pessoas. Mas, para Maria, não. Ela as guardava para meditá-las. Há um pensamento bonito do sábio que escreveu o Livro dos Provérbios, assim: "Aplicai-vos, com todo o cuidado possível, à guarda do vosso coração". É exatamente isso que notamos em Maria, segundo os Evangelhos.Que ela, a Virgem Prudentíssima, nos ajude a guardar o nosso coração. Dizia o profeta Jeremias que "a morte sobe pelas nossas janelas" (Jr 9,21). Ensinam os filósofos que os sentidos são as janelas da alma. É preciso guardar sob controle essas janelas, para que a morte não entre. Também isso é ato de prudência: e a Virgem nos ajudará, se pedirmos, a ter a prudência necessária para que o pecado não chegue a nós pelas "nossas janelas". (RANGEL, 1991)













Notas:

1 - "Sensata", na tradução da Bíblia de Jerusalém de "prudentissima". Mais apropriado que "inteligência", na tradução da Bíblia Ave Maria, confira 1 Samuel 25.

RANGEL, Paschoal. Maria, Maria.... Belo Horizonte: O Lutador, 1991.

Nenhum comentário:

Postar um comentário