quinta-feira, 19 de maio de 2016

Torre de Marfim - Fortaleza Inexpugnável

Turris eburnea, ora pro nobis.



Mandou fazer também um grande trono de marfim, revestido de ouro fino. (1 Reis, 10)





"Uma torre é uma estrutura que é mais alta e se destaca entre outros objetos em sua vizinhança", lembra o Beato John Henry Newman.
Assim, quando dizemos que um homem é "destaque" entre seus pares, queremos dizer que perante ele os outros são menores, que este homem é como uma torre na paisagem.Essa qualidade de grandeza é ilustrada na Virgem Santíssima. Embora ele tenha sofrido mais aguda e intimamente a Paixão e Crucifixão de Nosso Senhor, por ser sua mãe, do que qualquer um dos Apóstolos, consideremos, em meio à sua profunda angústia, quão mais nobre ela foi do que eles. Durante a agonia de Nosso Senhor, eles dormiam em tristeza (Mt 26,36-41; Mc 14,32-41; Lc 22,39-46). Não podiam combater seu profundo desapontamento e desânimo, não conseguiam dominá-lo, isso confundiu e entorpeceu seus juízos. E logo depois, quando outros perguntaram a São Pedro se ele era um dos discípulos de Nosso Senhor, ele negou. Ele não estava só em sua covardia. Os apóstolos, um a um, deixaram Nosso Senhor e fugiram - embora depois São João tenha retornado. Pios, eles ainda perderam a fé em Jesus e pensaram que todas as grandes esperanças que Ele edificou sobre eles havia terminado em fracasso.Quão diferente disso a corajosa conduta de Santa Maria Madalena e, ainda mais, da Virgem Mãe! É claramente notável que ela esteve aos pés da Cruz. Ela não arrastou-se no pó, mas manteve-se em pé para receber os golpes e punhaladas que a longa Paixão de Seu Filho infligira sobre ela a todo momento.Em seu sofrimento magnânimo e generoso é que ela é, quando comparada aos apóstolos, apropriadamente retratada como uma torre. Mas quanto às torres, podemos dizer que são estruturas grandes, grosseiras, conspícuas e deselegantes. Não possuem nada da beleza, refinamento e perfeição, que são notáveis em Maria. E isso é verdade, e por isso ela é chamada de Torre de Marfim, o que nos sugere, pelo brilho, pureza e requinte deste material, o quão transcendente é a formosura e a delicadeza da Mãe de Deus. (NEWMAN, 2015)
Uma tradução deste título "Turris eburnea", na Ladainha Lauretana, implica em "Fortaleza Inexpugnável". Por quê? Basadonna discorre: 
A vida do homem sempre transcorre entre alternância de bem e mal, alegria e dor, sucessos e fracassos, e também marcada por vicissitudes de santidade e pecado.Não existe entre nós continuidade sem fratura, nem coerência sem desarmonia, nem totalidade permanente: somos todos frágeis e todos os dias experimentamos a fraqueza que nos tolhe, a instabilidade e a perplexidade que nos induzem a fazer o que não queremos e a não fazer o que desejamos (cf. 1Cor 7,15-17). É preciso, porém, que essas circunstâncias não nos escandalizem, que não nos resignemos, pois a pessoa nem sempre se acha definida e jamais é acabada.Antes, existem sempre, nos corações mais sensíveis e nas pessoas mais atentas e conscientes, inquietação que não deixa descanso, e remorso que sempre denuncia a falha nos projetos e propósitos mais generosos nascidos nas circunstâncias mais positivas.Nosso ser de filhos de Deus manifesta-se no íntimo de todos os que se põem a caminho, querem corrigir seus erros e buscam aproximar-se do sonho de bondade e virtude que jamais os abandona.A vida cristã está marcada por esse ritmo e essa sequência de conversões, e a liturgia sempre convida em suas várias formas a "arrependermo-nos" e pedirmos perdão, a sempre recomeçarmos confiando na misericórdia de Deus que jamais deixa de compadecer-se das misérias humanas.A mediocridade, tão frequente em nossas vidas, e, o que é pior, amiúde considerada insuperável e sinal do limite humano, não pode ser aceita pela pessoa que crê no Deus que se fez homem e está presente na vida de todos.A fé exige, portanto, espírito de fortaleza e os "dons do Espírito Santo" que garantem capacidade e tenacidade, que embora não nasçam do homem são tão necessárias a ele.Então a figura de Maria torna-se como que "demonstração" da força, que se dá a quem pede, e da possibilidade de coerência total e fidelidade inabalável.Maria é fortaleza inexpugnável, cidadela do Espírito, mulher forte que achou no amor de Deus sua grandeza e sua liberdade, conhecendo a possibilidade de não cair vítima das engrenagens que tão frequentemente dominam nossas escolhas.A liturgia emprega imagens eloquentes para indicar a coerência vigorosa e invencível de Maria: compara-a a exército disposto para a batalha e louva sua obediência ao longo de toda a vida, inclusive nos momentos mais difíceis e dramáticos.Sua força procede de sua contínua união com Deus, de seu ser que totalmente se lhe consagrou, pois aceitou sua proposta com fidelidade permanente.Invocar Maria como fortaleza inexpugnável leva o cristão a encontrar em seu interior a força que vem de Deus, que o torna capaz de lutar e opor-se aos próprios instintos e às pressões vindas do mundo. Assim, o cristão pode levar vida coerente e corajosa, sendo fiel à sua fé e dando ao mundo sinais de esperança;Invocando Maria, o cristão pode tornar-se, também ele, "fortaleza" e "castelo forte", pelo fato precisamente de achar em Maria a ajuda necessária para resistir às sugestões e às tentações. (BASADONNA, 2000)

















Notas:

NEWMAN, John Henry. Rosa Mística. São Paulo: Cultor de Livros, 2015.
BASADONNA, Giorgio. Ladainhas de Nossa Senhora. São Paulo: Loyola, 2000.

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