quinta-feira, 19 de maio de 2016

Sede da Sabedoria

Sedes sapientiae, ora pro nobis.



A Sabedoria edificou sua casa, talhou sete colunas. (Provérbios 9)




O Padre Paschoal Rangel nos diz que, nesta invocação - Sede da Sabedoria - a Ladainha "resume uma porção de invocações e títulos laudativos, que uma longa tradição da Igreja atribuiu a Nossa Senhora".
Sede, trono, morada da Sabedoria, lugar onde Deus gosta de ficar e repousar. Lugar onde Ele se mostra aos anjos e santos do modo mais admirável. Os Santos Padres da Igreja, os santos, os grandes pregadores rivalizam uns com os outros, chamando a Virgem "trono da graça" (Pedro Celestino), "trono da divina misericórdia" (São Bernardino), "trono de safira" (São Boaventura), e assim por diante. Esses piedosos pregadores não faziam mais do que aplicar a Maria expressões do Profeta Isaías (16,5), Jeremias (17,12), Ezequiel (5,16). Trono de Deus, lugar onde a misericórdia, a glória, a santidade de Deus como que se assenta e se manifesta aos homens.Aqui, porém, no caso da Ladainha de Nossa Senhora, a Igreja sintetiza isso tudo no título de Trono da Sabedoria. Não a casa da sabedoria humana, mas o Trono da Sabedoria Divina.Quando se procura rastrear no Antigo Testamento a ideia e a imagem da Sabedoria, a gente percebe que, no final da revelação veterotestamentária, a Sabedoria deixa de ser simplesmente o pensamento e os caminhos de Deus, para tornar-se o próprio Deus. Ela é como um outro Ele mesmo, sua companheira desde as origens primordiais, antes que as coisas fossem feitas, estabelecida desde os tempos eternos. Há uma como ambiguidade nas expressões ainda balbuciantes do Livro dos Provérbios (8,22-31). Mas o Sábio nos faz sentir tal intimidade entre Deus e a sua Sabedoria que é como se os dois fossem uma só coisa, aquela que, com Ele, fez todas as coisas. Ela como que se personifica, Ela é Alguém, "é a Palavra criadora das origens, a Presença pessoal de Deus no meio de seu Povo" (L. Bouyer).
Louis Bouyer, num livro lindo, chamado "Le trône de la Sagesse", chama a atenção para um fato intrigante: Deus viu que o homem não podia ficar só e lhe deu uma companheira semelhante a ele. O Criador mesmo, porém, não precisava de uma companheira, absoluto em sua fecunda solidão. Não obstante, ele quis criar. E, ao entregar-se à obra criadora, a Escritura mostra nosso Deus, através de todo o seu magnífico trabalho (e o mesmo se repetiria na obra redentora), acompanhado sempre de "uma misteriosa figura feminina". Ele era a Sabedoria; Ela, a sua sede, seu trono. Ele, o Senhor. Ela, a Senhora. Ele, o nosso Deus. Ela, a morada encantada de Deus. É como se a Escritura quisesse ensinar. Na hora de ser fecundo, o Princípio (masculino) pede a companhia da Sabedoria (feminina).Sim, Maria, Sede da Sabedoria, rogai por nós.(RANGEL, 1991)




















Notas:

RANGEL, Paschoal. Maria, Maria.... Belo Horizonte: O Lutador, 1991.

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