Sancta Maria, ora pro nobis.
Sê bendita de teu Deus em todas as tendas de Jacó, porque o Deus de Israel será glorificado por causa de ti entre todas as nações que ouvirem o teu nome. (Judite 13: 30)
... e o nome da virgem era Maria. (Lc 1; 26-28)
Maria, era o nome da virgem. A origem deste nome, contudo, é obscura até hoje (1). Os etimologistas ainda não chegaram a um acordo sobre o seu significado. São dezenas de hipóteses formuladas. Não nos atreveremos a escolher uma delas. Deixe-mo-la assim: cercada com o encanto do mistério.
Estamos mais acostumados com Maria, a Mãe de Jesus, do Novo Testamento, nos escritos dos apóstolos, e nestes, em poucas passagens. Não se fala muito de Maria no Novo Testamento, pelo menos é o que parece numa primeira vista. Contudo, Maria, a Nova Eva, é, segundo a Sagrada Tradição, prefigurada em inúmeras passagens e personagens do Antigo Testamento: uma delas é em Judite (2), citada na epígrafe deste capítulo. Mas são muitas outras. O livro Mariology: A Guide for Priests, Deacons, Seminarians, and Consecrated Persons (3) elenca várias: Ester, Sara, Rebeca, Rute, etc.
Estamos mais acostumados com Maria, a Mãe de Jesus, do Novo Testamento, nos escritos dos apóstolos, e nestes, em poucas passagens. Não se fala muito de Maria no Novo Testamento, pelo menos é o que parece numa primeira vista. Contudo, Maria, a Nova Eva, é, segundo a Sagrada Tradição, prefigurada em inúmeras passagens e personagens do Antigo Testamento: uma delas é em Judite (2), citada na epígrafe deste capítulo. Mas são muitas outras. O livro Mariology: A Guide for Priests, Deacons, Seminarians, and Consecrated Persons (3) elenca várias: Ester, Sara, Rebeca, Rute, etc.
Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num hissopo, lha chegaram à boca.E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. (João 19:28-30)
Passemos às considerações sobre a Ladainha de Nossa Senhora, propriamente dita: aos títulos sob os quais a Virgem Maria é invocada.
John Newman dirá que somente Deus pode reivindicar os atributos
da santidade, e continua:
Vemos, então, agora a força do título de Nossa Senhora quando a chamamos de “Santa Maria”. Quando Deus preparava uma mãe humana para Seu filho, este foi o motivo pelo qual Ele lhe concedeu uma Imaculada Conceição. Ele começou não por dar-lhe os dons do amor, ou veracidade, ou docilidade, ou devoção, embora, quando necessário, ela já os tinha todos. Deus começou sua grande obra antes de seu nascimento; a fez santa antes que ela pudesse falar, pensar ou agir e, deste modo, enquanto na terra, uma cidadã do céu. (5).
Em sintonia, Padre P. Rangel explica:
Santo é aquilo que é consagrado a Deus. Consagrar é unir alguém ou alguma coisa ao que é sagrado (con-sagrar); é destiná-los a Deus, ao divino, de modo especial. É assim Maria. Ligada definitivamente a Deus desde a concepção; pensada, querida, amada por Deus desde a eternidade para ser sua Mãe, ela seria (e foi) uma criatura con-sagrada (...) Mas é o Senhor quem toma a iniciativa, é Ele que estabelece, firma, consolida esse “estar-com” (6).
E assim, podemos entender claramente as palavras do anjo
Gabriel: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1: 28).
O Padre Antônio Vieira, "espantado" por quantas vezes os anjos
perguntam “quem é esta?”, e sabendo que a resposta seria "Maria", se pergunta o
porquê, e ele mesmo responde: Quem não pergunta por ignorância pergunta por gosto; e é
tanto o gosto que todos os espíritos angélicos recebem em ouvir pronunciar o
nome de Maria que só porque lhe respondem que é Maria perguntam tantas vezes (7).
E não só os anjos do céu, senão os que neste mundo guardam os homens, quando algum nomeia e invoca o nome de Maria, logo se chegam mais a ele para o ouvir de mais perto, e lhe assistem com maior cuidado: "Angeli etiam boni audito hoc nomine statim appropinquant mugis justis". – De sorte que, para fazermos mais nossos os nossos anjos da guarda, e sermos mais benevolamente assistidos deles, a melhor oração, e o maior obséquio que lhes podemos fazer é nomear muitas vezes o nome de Maria (8).
Repetir este nome em atitude devota e respeitosa, anota Santarelli (9), gera na alma sensação de paz e estimula a opções mais corajosas em sintonia com a mensagem evangélica. E que a invocamos porque reconhecemos sua grandeza expressando-lhe nossa admiração, porque queremos agradecer a Deus pelas maravilhas que operou nessa mulher fazendo dela sinal do que ele opera em prol de cada mulher e de cada criatura.
Assim, apesar de não sabermos ao certo a origem deste nome, Maria, iniciamos a Ladainha com este gesto de "intimidade", pronunciando-o. Mas, esta não é uma Maria qualquer, e também, de início a Ladainha o destaca: esta Maria é Santa. E, também, não uma santa qualquer - como ao longo da história se fizeram muitos -, mas, aquela destinada deste o princípio a ser a Theotokos (10), a Mãe de Deus. E foi Este que do alto da cruz destinou-a para ser, também, a Nossa Mãe, a Nossa Senhora:
Assim, apesar de não sabermos ao certo a origem deste nome, Maria, iniciamos a Ladainha com este gesto de "intimidade", pronunciando-o. Mas, esta não é uma Maria qualquer, e também, de início a Ladainha o destaca: esta Maria é Santa. E, também, não uma santa qualquer - como ao longo da história se fizeram muitos -, mas, aquela destinada deste o princípio a ser a Theotokos (10), a Mãe de Deus. E foi Este que do alto da cruz destinou-a para ser, também, a Nossa Mãe, a Nossa Senhora:
Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho.Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa. (João 19:26,27)
Niterói, 26 de maio de 2016
Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sanque de Cristo
Notas:
(1) - The Name of Mary. In The Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. Acessado em 25 e Maio de 2016.
(2) - O que nos interessa é saber porque a Sagrada Tradição vê nestas passagens e personagens a figura da Virgem Maria. Ora, o Antigo Testamento é, todo ele, como que uma "preparação" para o Novo Testamento, e este como que uma consumação daquele:
Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede.
Assim, ler o Antigo e o Novo Testamento sem este entendimento, se não provoca falhas e erros na interpretação, pelo menos a torna menos compreensível e pobre. O que fez Judite, então, para a enxergarmos como uma prefiguração da Virgem Maria? Tomemos emprestado um resumo de sua história, embora seja mais interessante ler o Livro de Judite. A história é a seguinte:
“Nabucodonosor, rei de Nínive, envia seu geral Holofernes para subjugar os judeus. O último assedia-os em Betúlia, uma cidade à beira do sul da planície de Esdrelon. Achior, o amonita, que fala em defesa dos judeus, é maltratado por ele e enviado para a cidade sitiada para aguardar sua punição feita por Holofernes. A fome mina a coragem dos encurralados e eles resolvem se rendem, mas Judite, uma viúva, repreende-os e diz que vai deixar a cidade. Ela vai para o acampamento dos assírios e Holofernes cativo pela sua beleza, e finalmente, tira proveito da intoxicação do general para cortar-lhe a cabeça. Ela retorna para a cidade inviolada com a cabeça como um troféu, e um ataque, por parte dos judeus, resulta no alvoroço dos assírios. O livro termina com um hino ao Todo-Poderoso feito por Judite para comemorar sua vitória” (In, POPE, Hugh. “Estudo sobre o Livro de Judite. The Catholic Encyclopedia. Vol. 8. New York: Robert Appleton Company, 1910. Tradução de Rafael Rodrigues).
Assim, a Sagrada Tradição vê em Judite uma metáfora e uma prefiguração da Virgem Maria: esta mulher que "aparece como a alva do dia, formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército com bandeiras" (Cânticos 6:10), para citar outra passagem que a prefigura. Ela, sozinha, vale por um terrível "exército em ordem de batalha" (numa outra tradução da Bíblia). Esta mulher corajosa que, com o as graças do Todo-poderoso, enfrentou o perigoso inimigo e o venceu, assim como Maria o fará contra o inimigo do gênero humano. De quem já no Gênesis, Deus falara, ao advertir a serpente:
Porei ódio entre ti e a mulher [Maria], entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu ferirás o calcanhar. (Gênesis 3: 15).
(3) BURKE, 2008
(4) RANGEL, 1991, pg 15
(4) RANGEL, 1991, pg 15
(5) NEWMAN, 2015, pg 52
(6) Op. cit., pg 15
(7) Sermão do Santíssimo Nome de Maria, § I
(8) Idem, ibidem.
(9) SANTARELLI, 2000, pg 60
(10) Do título de "Mãe de Deus" derivam depois todos os outros títulos com que a Igreja honra Nossa Senhora, mas este é o fundamental, como afirmou o Papa Bento XVI na Audiência Geral de 2 de Janeiro de 2008, na Sala Paulo VI.
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