quinta-feira, 19 de maio de 2016

Rosa Mística

Rosa mystica, ora pro nobis.

Coroemo-nos de botões de rosas (Sabedoria 2)





Maria é a mais bela flor que jamais foi vista no mundo espiritual. É pelo poder da graça de Deus que desta terra estéril e desolada surgiram todas as flores de santidade e glória. E Maria é a Rainha delas. Ela é Rainha das flores espirituais e, portanto, é chamada Rosa, pois a rosa é, apropriadamente denominada, a mais bela de todas as flores.Mas além disso, ela é a Rosa Mística, ou oculta, pois "místico" denota o misterioso e oculto. Como ela está agora "oculta" de nós mais do que os outros santos? O que significa esta singular apelação, que aplicamos especialmente a ela? A resposta a isso nos introduz a uma terceira razão para crer na reunião de seu corpo sagrado à sua alma e sua assunção ao céu, logo após sua morte, em vez de sua permanência no túmulo até a ressurreição geral do último dia.É assim: se seu corpo não foi levado aos céus, onde está ele? Como é isso de estar escondido de nós? Por que não ouvimos sobre seu túmulo estar aqui ou acolá? Por que não há peregrinações a ele? Por que não há relíquias delas, como em geral há de outros santos? Não é um nosso instinto natural reverenciar os locais onde nossos mortos são enterrados? Nós sepultamos nossos grandes homens de forma honrosa. São Pedro fala como sendo conhecido em seu tempo o sepulcro de Davi, embora este tenha morrido centenas de anos antes. Quando o corpo de Nosso Senhor foi baixado da Cruz, ele foi colocado em um túmulo honrado. Essa também foi a honra prestada a São João Batista, e São Marcos falava que seu túmulo era comumente conhecido.Os cristãos dos primeiros tempos vinham de outros países a Jerusalém para ver os lugares sagrados. Quando terminou o tempo da perseguição, foi dada ainda mais atenção aos corpos dos Santos, como o de Santo Estevão, São Marcos, São Barnabé, São Pedro, São Paulo e outros Apóstolos e mártires. Estes foram transportados a grandes cidades, e parte deles foram enviados para este ou aquele local. Assim, desde o início até hoje, tem sido um princípio e característica da Igreja ser cuidadosa e reverente para com os corpos dos Santos.Se existisse alguém, mais que qualquer um, que deveria ser preciosamente cuidado, seria Nossa Senhora. Por que, então, não ouvimos nada sobre o corpo da Virgem Santíssima e de suas relíquias? Por que ela é a Rosa oculta? É concebível, então, que aqueles que foram tão reverentes e cuidadosos com os corpos dos Santos e Mártires devessem negligenciá-la, ela que é a Rainha dos Mártires e dos Santos e que é a Mãe de Nosso Senhor? Isso é impossível. Por que é, assim, a Rosa oculta? Claramente, porque aquele corpo sagrado está no Céu, não na terra.(NEWMAN, 2015)


"Como Maria tornou-se a Rosa Mística, a escolhida, a delicada, a flor perfeita da criação de Deus?", Pergunta-se o Beato John Newman. E explica:
Foi por ter nascido, sido nutrida e abrigada no jardim místico do Paraíso de Deus. As escrituras fazem uso da figura de um jardim, quando falam do paraíso e de seus abençoados habitantes. Um jardim é um espaço separado para árvores e outras plantas, todas boas e variadas, para coisas doces ao paladar, perfumadas em seu aroma, belas de se olhar ou úteis para a alimentação; portanto, em seu sentido espiritual, representa o lar dos espíritos abençoados e almas santas que lá habitam. Almas cercadas de flores e frutos, que pela cuidadosa administração de Deus vieram a sustentar flores e frutos de graças; flores mais belas e perfumadas do que as de qualquer outro jardim, frutos mais saborosos e sublimes do que aqueles maturados por qualquer lavrador humano.Tudo o que foi feito por Deus fala de seu Criador. As montanhas falam de sua eternidade, o Sol, de sua imensidão e o vento, da sua onipotência. Da mesma forma as flores e frutos falam de Sua santidade, Seu amor e Sua providência. a assim como são as flores e os frutos, assim deve ser o local onde eles são encontrados. Deste modo, uma vez que eles são encontrados em um jardim, este jardim possui também excelências que falam de Deus. Por exemplo, seria totalmente fora de contexto encontrarmos belas flores em um despenhadeiro ou suculentas frutas em um deserto de areia. Assim como as flores e frutos podem ser compreendidos, num sentido sobrenatural, como as graças e dons do Espírito Santo, da mesma forma, um jardim pode ser entendido como um lugar de repouso, quietude, paz, revigoramento e encantamento.Assim, nossos primeiros pais foram colocados em um "jardim dos prazeres", à sombra das árvores "de aspecto agradável e de frutos bons para comer" (Gn 2,9), com a Árvore da Vida no centro e um rio para regar o jardim. Nosso Senhor, falando da cruz ao bom ladrão, chamou o local abençoado, o céu para onde ele o levaria, de "paraíso" (Lc 23,43), ou um jardim de prazeres. Assim, São João, no Apocalipse, escreve sobre o céu, o palácio de Deus, como a um jardim ou paraíso, no qual estava a Árvore da Vida, produzindo seus frutos todo mês (Ap 22,2).Tal foi o jardim no qual a Rosa Mística, Maria Imaculada, foi abrigada e sustentada para se tornar a Mãe de Deus Santíssimo, desde seu nascimento até seus esponsais com São José, em um período de treze anos. Durante três anos, esteve nos braços de sua santa mãe, Santa Ana, e então nos dez anos seguintes ela viver no Templo de Deus (1). Naqueles abençoados jardins - podemos assim chamá-los - ela viveu por sua conta, visitada continuamente pelo orvalho da graça de Deus, e crescendo cada vez mais como flor celestial, até que ao final daquele período já estava preparada para ser a morada do Santíssimo. Foi este o resultado da sua Imaculada Conceição; Com exceção de Maria, as mais belas rosas no paraíso de Deus foram atacadas por doenças e pragas. Todas, menos ela; desde o princípio foi ela perfeita em sua doçura e beleza, e, enfim, quando o anjo Gabriel veio a ela, a encontrou "cheia de graça", que estava, pelo seu bom uso, conservada por ela desde o primeiro momento de sua existência.(NEWMAN, 2015)

















Notas:

(1) - A história da infância de Maria e de sua apresentação ao templo não é narrada nas Escrituras, mas em evangelhos apócrifos, em particular no Proto-Evangelho de Tiago. Muitos dos Primeiros Padres da Igreja citam frequentemente estas passagens, como São Clemente de Alexandria e São Justino. No entanto, a festa da Apresentação de Nossa Senhora consta no calendário das Igrejas do Oriente e Romana.
NEWMAN, John Henry. Rosa Mística. São Paulo: Cultor de Livros, 2015.

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