quarta-feira, 18 de maio de 2016

Refúgio dos Pecadores

Refugium peccatorum, ora pro nobis.


Ajuntarei Raab e Babilônia aos que me honram (Salmo 86)





"Se se quiser conhecer o coração de Maria, basta conhecer o coração de Jesus", disse o Padre Paschoal Rangel.

Ora, Jesus nos disse que ele viera chamar os pecadores e não os "justos"; que eram os doentes que precisavam de médico e não os sadios. Aliás, o coração de Jesus é uma réplica do coração de Deus, o Pai. E a Bíblia nos ensina que ele é "o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação" (2Cor 1,3).Toda ensinável, toda feita discípula de Cristo, de quem meditava, longa e repassadamente, as palavras, atos e atitudes (Jo 6,45), Maria aprendeu, como ninguém, do Espírito e de seu próprio Filho, essa capacidade de compaixão, de sofrer com os necessitados, sobretudo com esses necessitados por vezes incapazes até de se sentirem tais, os pecadores.Mais que isso, ela os protege com suas orações, busca-os aonde estiverem, e lhes dá abrigo se a procuram com medo ou desesperados, É isso que exprime aquela belíssima oração de São Bernardo: "Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que recorreram à vossa proteção, imploraram a vossa assistência e reclamaram o vosso socorro, fosse por vós desamparado".O mesmo santo dizia em um dos seus sermões sobre a Assunção: "Que deixe de falar de vossa misericórdia, ó Virgem bem-aventurada, quem quer que te haja invocado em suas necessidades e se lembre de não ter sido atendido" (1)Se tivéssemos que encontrar mais alguma razão para que ela seja nosso refúgio, mesmo que sejamos fracos e pecadores, bastaria lembrar-nos de que ela não é mãe apenas de bons e santos, mas dos pecadores também. Uma figura interessantíssima do Apocalipse, que uma longa tradição espiritual atribui a Maria, mostra-a como a mulher que dá à luz em grandes gritos, porque sofria agudas dores de parto (Ap 12,1-2). A gente sabe que esse texto não se refere diretamente a Maria, mas e aplicado pela Igreja a ela. Pois bem, Maria, pensam os santos, não sofreu com o parto de Jesus; pelo contrário, teve uma imensa alegria ao dar à luz seu filho "primogênito". As dores do parto, ela as sentiu, porém, gerando-nos a nós, seus filhos pecadores. Foi um Calvário que ela padeceu para nos dar a vida.O pecador, escreveu Z. C. Jourdain, é um outro Benoni, que, em hebraico, quer dizer: filho da minha dor. Foi assim que Raquel chamou o seu "segundo" filho, de cujo parto dificílimo acabou morrendo (Gn 35,18). Nós também, filhos "segundos", fizemos Maria passar por dores de morte: "uma espada transpassará o teu coração". Filhos da dor, mas do muito amor. Ben-Oni, filhos da aflição, mas Benjamins também (2). Por isso mesmo, ela não podia deixar de ser nosso refúgio. (RANGEL, 1991)










Notas:


1 - Serm 4 de Assumpt. Virg.
2 - Jacó, depois, mudou o nome Benoni, como Raquel o chamara, para Benjamim (filho de minha direita, ou filho predileto, predileção que incluía, não só o menino, mas a mãe dele, que Jacó amou tão especialmente.
RANGEL, Paschoal. Maria, Maria.... Belo Horizonte: O Lutador, 1991.

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