sexta-feira, 20 de maio de 2016

Mãe sempre virgem

Mater inviolata, ora pro nobis.


Amaste a castidade... e por isto serás eternamente bendita. (Judite, 15)








Maria é, de fato, inviolada, como a chapa de vidro atravessada pelo sol, que vem, transpassa-a, sai dela sem quebrá-la, sem deixar mancha, sem sinal algum de sua passagem. Deus passou assim por Maria, inviolada, como diz Santo Agostinho, comentando um texto simbólico do Profeta Ezequiel: “O Senhor me disse: Esta porta ficará fechada; não se abrirá e nenhum homem passará por ela, porque o Senhor Deus de Israel por ela entrou”. (Ez 44,2)“Que é que significa: “Há na casa do Senhor uma porta fechada”, senão que Maria será sempre intacta? E que é que significa: “Nenhum homem passará por ela”, senão que José não a possuiu? E o que significa: “Esta porta ficará fechada para sempre” senão que Maria é virgem antes do parto, virgem no parto, virgem depois do parto?” (Sermo 14, in Natali Dom.)Nesta fé a Igreja se compraz, os Santos Padres exultam: “Mater inviolata”, gostam de redizer e querem significar: Mãe perfeitamente virgem.Santo Antonino, em sua Summa, resumiu tudo: “Mãe de todos nós, em plena virgindade; Mãe que, por primeira, independente de preceito, conselho ou exemplo de outros, ofertou a Deus o presente de sua virgindade, e, assim, gerou todas as virgens, na medida em que são virgens por imitação de sua virgindade”. (Pars IV, tit. 15, cap. 26). (RANGEL, 1991)
 


Na Mãe de Jesus, na Virgem Maria, realizou-se a profecia de Isaías – “uma virgem conceberá e dará à luz um filho” (Is 7,14). O mistério da maternidade virginal de Maria é atestado de modo muito explícito pelos relatos evangélicos do nascimento de Cristo: “o que n’Ela foi gerado vem do Espírito Santo” (Mt 1,20); “o Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra – por isso o que vai nascer será santo, será chamado Filho de Deus” (Lc 1,35). Mas a afirmação mais inequívoca é a do prólogo do Evangelho de São João: “Ele que nem o sangue, nem a vontade da carne, nem a vontade do homem mas é Deus que gerou” (Jo 1,13). Esta versão, que é a mais comumente aceita pelos estudiosos do texto bíblico como mais fiel ao original, refere-se diretamente ao Verbo que se fez carne, uma alusão clara à geração eterna do Verbo pelo Pai mas também a seu nascimento no tempo, por uma Virgem intacta – sem participação do homem -, numa ação exclusiva de Deus pelo Espírito Santo. Foi a maternidade divina que consagrou e santificou a pureza virginal de Maria.Assim, nossa Mãe inviolada nunca esteve submetida às paixões humanas, à concupiscência da carne que age em nós como consequência do pecado. A Ela não se aplicou o que São Paulo falava de sua condição carnal: “Vendido no poder do pecado, não entendo verdadeiramente meu agir: não faço o que desejo e faço o que abomino” (Rm 7,15). Nela nunca houve o conflito interior entre o espírito e a carne (Gl 5,17) que marca dolorosamente, e às vezes de modo trágico, nossa condição humana de pecadores. Ela é a Imaculada, isenta de todo pecado desde o primeiro instante de sua existência. No interior de Maria havia o perfeito equilíbrio, a maravilhosa harmonia que o domínio da razão e da vontade sobre os sentidos proporcionava, sem aquela desordem interna que o pecado introduziu em nós. Em Maria apareceu novamente a integridade interior própria da inocência original.A grande fonte do pecado são as tentações. Elas atuam primeiramente em nossos sentidos externos (o que vemos, o que sentimos) ou em nossa imaginação, procurando a sensibilidade. Assim, aproveitando o conflito interior com que o pecado feriu nossa natureza, a tentação leva ao enfraquecimento da vontade e, daí, à ação pecaminosa. Como a Cristo nas tentações do deserto (Mt 4,1-11; Lc 4,1-13), o tentador podia no máximo levar a Maria a proposta dos sentidos externos. Mas essa proposta em nada atingia a sensibilidade interior da Mãe intacta e muito menos sua vontade inteiramente entregue a Deus.Sem a mancha do pecado, Maria antecipou em seu corpo na ressurreição final, à semelhança do Corpo Glorioso do Senhor Ressuscitado. Hoje, em sua glória, assunta ao céu em corpo e alma, a Mãe inviolada se torna para nós uma referência essencial na peregrinação para a Jerusalém celeste (João Paulo II na encíclica Redemptoris Mater). Ela é hoje o que esperamos ser um dia pela misericórdia de Deus. A beleza e dignidade do corpo humano tem em Maria uma glória perfeita, total como a do vaso de porcelana que nunca se quebrou. Nossa glória será a beleza do vaso que um dia se quebrou, mas que a graça do Deus Misericordioso restaurou. Por isso, olhando nossa Mãe intacta, pedimos a Ela que interceda por seus filhos pecadores para que possam refletir, mesmo palidamente, o esplendor de sua beleza ilibada, de sua glória que nos ilumina em nosso caminho por Cristo para o Pai. (VAZ,  2005).












Notas:

RANGEL, Pe Paschoal. Maria, Maria.... Belo Horizonte: O Lutador, 1991)
VAZ, Dom José Carlos de Lima. O louvor a Maria. São Paulo: Loyola, 2005)

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