quinta-feira, 19 de maio de 2016

Mãe do Criador

Mater Creatoris, ora pro nobis.

Então a voz do Criador do universo deu-me suas ordens, e aquele que me criou repousou sob minha tenda. (Eclesiástico 24: 12)




"Ser Mãe do Criador é consequência de ser Mãe de Jesus", nos diz o Padre Paschoal Rangel, e, por, isso, ser Mãe de Deus.

Mas, ao afirmar que Maria é mãe do Criador, a grande Tradição da Igreja pretendia explicitar algumas verdades fundamentais do cristianismo, negadas por várias heresias: os arianos, por ex., ensinavam que Jesus, filho de Deus, não era Deus igual ao Pai, e, por isso, não seria Criador, e sim, criatura ele também. Criatura, embora a mais eminente de todas elas. Quando invocamos Maria como Mãe do Criador por ser mãe de Jesus, Filho de Deus, proclamamos ao mesmo tempo que esse Jesus, seu Filho, é nosso Criador também. Outros hereges, como os ebionitas, seita judeu-cristã dos tempos apostólicos, pretendiam que Jesus, grande profeta, que por sua extraordinária fidelidade à Lei se tornou o Cristo de Deus, não pré-existiu a Maria, e, portanto, não podia ser Criador. Outros ainda queriam fazer dela uma deusa e não de seu próprio Criador.  
A simples invocação da Ladainha é uma resposta amorosa e implícita a todos esses erros, ao mesmo tempo que expressa um mistério, recheado de deliciosos oximoros:
“Esta matéria extraordinária nos tira até a capacidade de falar” – diz São Pedro Damião. “Que língua poderá explicar, que inteligência não ficaria parada de espanto, se começasse a pensar que o Criador nasce da criatura, o artesão vem de seu artefacto, queo seio de uma jovem virgem tenha gerado Aquele que pode conter todo o universo?”. 
No entanto, apesar da aparente contradição, falando de Jesus, o evangelista João escreveu: “Tudo foi feito por ele, e sem ele não foi feito nada do que foi feito”. (Jo 1,3). E uma das orações mais bonitas da Liturgia das Horas, uma antífona mariana que termina o ofício da noite, diz assim: “Ó tu que geraste, diante da admiração da Natureza, o Santo que te gerou”. (Tu quae genuisti, natura mirante, tuum sanctum Genitorem). 
Os Santos Padres rivalizam, por assim dizer, entre si, tentando explicar, cada qual melhor que o outro, a beleza e a profundeza misteriosa desse título de Maria: “Ó Virgindade admiravelmente fecunda que, num novo e inédito milagre, recolhe no seio Aquele que é sem medida, gera o eterno e dá à luz o que foi gerado antes dos séculos” (São Pedro Damião). (RANGEL, 1991)















Notas:

1 - RANGEL, Paschoal. Maria, Maria.... Belo Horizonte: O Lutador, 1991.
2 - VAZ, Dom José Carlos de Lima. O Louvor de Maria. São Paulo: Loyola, 2005.

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