quinta-feira, 19 de maio de 2016

Mãe do Bom Conselho

Mater boni consilii, ora pro nobis.



Mater boni consilli (Pasquale Sarullo)



Esta invocação foi introduzida na Ladainha Lauretana pelo Papa Leão XIII por um decreto do dia 22 de abril de 1903.
O “conselho” é um dom do Espírito Santo. Um dom especialíssimo, que vem suprir as dúvidas e deficiências de nossa prudência.  A prudência é uma grande virtude humana, e pode ser fortalecida pela graça, tornando-se, assim, uma virtude sobrenatural.
Mas a experiência é longa, antiga: as virtudes não excluem a natureza do homem; apenas a aperfeiçoam. E é frequente que, mesmo apoiado pela graça, o homem vacile, tenha medo, se sinta inseguro. É aí que pode agir o “dom” do Espírito Santo: sob sua ação, desaparecem as dúvidas, caem as barreiras, o homem “recebe! (gratuitamente) forças e luzes especiais, que o ajudam a viver em plenitude, apesar de todas as dificuldades. O dom específico do “conselho” age em nós na área da virtude da prudência. Sabe-se que a prudência nos guia na hora de agir, nos fortalece e dirige dentro da prática cotidiana.
Pois bem, Maria, cheia sempre do Espírito Santo, e medianeira, por vontade de Deus, das graças que o Espírito nos concede, pode alcançar-nos, por sua intercessão, esse dom importantíssimo do conselho. Por isso, invocamo-la assim: “Mãe do bom conselho, rogai por nós”.
Mas “conselho” pode significar também, na Escritura, uma orientação: “A respeito das virgens” – escreveu São Paulo – “dou um conselho” (1 Cor 7,25). Ou então, quer dizer uma capacidade de entender as coisas com sabedoria e clarividência, com uma inteligência que sabe o que importa fazer em circunstâncias concretas. No Livro dos Provérbios se diz: “Meum est consilium”, isto é, “é de mim (da Sabedoria) que vem a orientação segura” (Pr 8,14).
Jesus foi chamado pelo Profeta Isaías “Admirável, Conselheiro, Deus” (Is 9,6). Também neste sentido, podemos invocar Maria, como a Mãe do Bom Conselho, a Mãe do Conselheiro Admirável e divino; ou ainda, aquela que, falando no íntimo de nossa consciência, só nos orienta para o bem.
O Livro do Eclesiástico alerta: “Consiliarius sit tibi unus de mille”. Que quer dizer: “Escolhe para teu conselheiro um entre mil” (Eclo 6,6). Certamente não nos enganaremos, de modo algum, escolhendo Maria.
Mas é principalmente enquanto ela nos pode conseguir ser assistidos mais frequentemente pelo dom do Espírito Santo que a devemos invocar de coração: “Mãe do bom conselho, rogai por nós”. (RANGEL, 1991)
Nossa Senhora é invocada como “mãe do bom conselho”, aquela que sabe dar conselho “bom”, ou seja, útil e discreto, a quem pede.
O mundo está cheio de “conselheiros”: todos os meios de comunicação social, todas as transmissões de rádio e televisão, toda a publicidade e as propagandas de qualquer gênero, desde as referentes à política, à economia até ao lazer, não fazem outra coisa que descarregar conselhos e fazer propostas que sempre se apresentam como vantajosas aos destinatários.
Está se tornando assim a humanidade massa uniforme, presa sempre nas peias de conselhos e apelos que nivelam os indivíduos moldando-os segundo modelos preestabelecidos. Nosso mundo, precisamente porque rico de maior e formas de comunicação, leva facilmente as pessoas ao condicionamento. Elas não conseguem lançar mão de “conselhos” como pontos de partida e sementes que se devem fazer germinar e crescer, e deixam-se, ao contrário, encaixar e tomar a forma dos vários continentes.
Por isso as pessoas hoje raramente pedem conselhos com intenção leal de medir-se e confrontar-se com o parecer de outros considerados capazes de entender e abrir novas pistas para o próprio caminho.
Hoje todos pensam que são capazes de “arranjar-se” sozinhos, sem ajuda de outrem, também porque têm medo de deparar com esclarecimentos desagradáveis e revelações incômodas, medo de precisar considerar negativo o que já aceitaram como bom. Muitas vezes, porém, pedir conselho significa pedir aprovação, sentir-se compreendido e sustentado nas próprias escolhas, ter uma segurança a mais e poder repousar na própria consciência sustentada pelo parecer de outrem.
Assim, estamos num mundo sem iniciativas corajosas, sem novas cores, sem personalidades que se tornam fermento na massa e fazem pensar.
Com frequência, infelizmente também no mundo católico corremos o risco de arrastar-nos pesadamente em hábitos há séculos consolidados ou em opções impostas por pessoas “carismáticas”, como se costuma dizer, com o resultado de nos tornar passivos e repetitivos, anônimos e por conseguinte estéreis, carentes de testemunhas que façam aparecer a presença do Espírito.
A devoção a Nossa Senhora pode ser antídoto a essa doença e levar, ao contrário, à postura desejosa de “conselho”, ou seja, de confrontar-se com palavras que sacodem de certa forma a preguiça, abrindo novos caminhos.
Maria é a mãe que dá bom conselho conclamando a que acolhamos o anúncio que vem de Deus, sua vontade expressa na palavra da Bíblia, no gesto litúrgico ou também no devir das coisas do dia-a-dia: é mãe que convida a pôr-se a caminho para levar ajuda aos necessitados, ainda que seja difícil a viagem e haja mil desculpas para a evitar.
Maria é a mãe que nos aconselha a ser atentos ao que acontece em nosso redor e a apontarmos a necessidade quando surge, quando vem a faltar o vinho da generosidade, do serviço, da fé e da compreensão mútua.
É a mãe que aos pés da cruz recebe a tarefa de acolher em seu seio fecundo o gênero humano resgatado pela morte do Filho. Dá-nos aí o conselho de nos tornar colaboradores da redenção que sempre acontece no sangue e sempre precisa de participação corajosa.
Se pedirmos conselho a Maria, sem dúvida poderemos reencontrar em nós sinais de nossa vocação pessoal, dados pelo próprio Deus para nos fazer testemunhas de seu amor. (BASADONNA, 2000)



Notas:

1 - História da Mãe do Bom Conselho
6 - RANGEL, Paschoal. Maria, Maria.... Belo Horizonte: O Lutador, 1991)
7 - BASADONNA, Giorgio. Ladainhas de Nossa Senhora. São Paulo: Loyola, 2000.
8 - VAZ, Dom José Carlos de Lima. O louvor de Maria. São Paulo: Loyola, 2005.

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